Por Fernanda Dias

Ir morar fora, conseguir um passaporte europeu ou norte-americano, ou apenas satisfazer um desejo de se aproximar das raízes da família. Esses são apenas alguns dos motivos que têm estimulado cada vez mais pessoas a fazer o pedido de reconhecimento de uma nova cidadania. No Brasil, os consulados da Itália e de Portugal estão entre os mais visados em função de grande parte da população, principalmente das regiões sudeste e sul, ser descendente de imigrantes desses países. Mas, em todo mundo, a cidadania mais requisitada é a norte-americana, mesmo com o aumento significativo no valor das taxas cobradas pelo governo para a regularização da documentação.
Segundo dados do Departamento de Segurança Interna dos EUA, o número de pessoas naturalizadas estadunidenses tem crescido muito nos últimos 30 anos. Entre 1980 e 1989, foram concedidas naturalizações a 2,5 milhões de pessoas. De 1990 a 1999, o número subiu para 4,9 milhões. E entre 2000 e 2009, 6,8 milhões de pessoas obtiveram o registro, cerca de 680 mil por ano. Embora tenha bem menos pedidos em números totais, a Inglaterra também tem verificado uma grande elevação na quantidade de interessados em obter a cidadania britânica. De acordo com o jornal The Telegraph, 203.865 pessoas conseguiram o documento oficial em 2009, o equivalente a uma a cada três minutos. O salto em relação ao ano anterior foi de 58%.
Atualmente mais da metade dos países permitem alguma forma de dupla cidadania. Mas, nem sempre foi assim. Os políticos consideravam a opção um problema equivalente à bigamia. Em tempos de guerra, nos séculos XIX e XX, eles temiam a interferência dos que nasceram ou foram criados fora da terra pátria. Nas últimas décadas, no entanto, esse pensamento tem mudado.
Ser um cidadão com dupla nacionalidade traz alguns benefícios e facilidades, como a garantia de emprego legal sem a necessidade de trâmites burocráticos. A cidadania norte-americana, por exemplo, pode ajudar aos que pensam em fazer faculdade nos EUA, já que o valor da anuidade em algumas universidades do país depende da nacionalidade do aluno. O norte-americano paga, em média, 50% menos do que os estrangeiros. Já quem possui a cidadania europeia pode viajar para algumas nações que não fazem parte da comunidade, como Japão, Estados Unidos e Canadá, sem precisar de vistos.
“Os benefícios para quem adquire passaporte europeu incluem participações em concursos públicos e abertura de empresas e contas bancárias. Além disso, quando o assunto é mercado de trabalho, a dupla cidadania pode ser um diferencial no currículo, pois a pessoa com experiência em viagens e em assuntos internacionais transmite cultura”, ressalta Paulo Padovani, diretor da Agenzia di Paulo Padovani, especializada em processos de pedidos de cidadania italiana.
As facilidades adquiridas após a obtenção do novo documento contrastam, no entanto, com a demora e burocracia para adquiri-lo. Segundo Paulo Padovani, o prazo médio para ser chamado pelo consulado italiano é de até 10 anos em São Paulo e Curitiba. Já no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, esse tempo cai em média para quatro e cinco anos, respectivamente. O problema é que não há como dar entrada em outro estado senão aquele de residência, pois é necessário comprová-la.
A bancária Fátima Bettarello iniciou o seu processo de cidadania italiana, junto com mais seis pessoas da família, em 2007. Ela espera ser chamada este ano para fazer a entrevista no consulado de Belo Horizonte. O desejo de se tornar legitimamente italiana, entretanto, partiu da filha Luana, que trabalha com comércio exterior e é fascinada pela história de seus antepassados. Foi ela quem fez buscas em sites do governo da Itália até localizar a certidão de batismo de seu tataravô. Mas, foi com a ajuda de um advogado especializado que a família conseguiu dar prosseguimento à obtenção de outros documentos que eram necessários. “A orientação de uma pessoa especializada está sendo fundamental. Se não fosse isso, levaríamos no mínimo o dobro do tempo”, ressalta Fátima.
A publicitária Cecília Martins, de 26 anos, também enfrentou a burocracia durante dois anos para tirar a cidadania portuguesa. Após morar em Londres com o pai, que era oficial da Marinha, ela viu que ser cidadã europeia poderia ajudar caso resolvesse um dia voltar a morar no Velho Continente: “O processo foi muito burocrático. Eles impõem muitos obstáculos, e é preciso ser persistente. Minha família começou a tirar o registro em Brasília, mas finalizou em Salvador porque mudamos de cidade. Por enquanto, não tenho planos definidos, mas não descarto a possibilidade de voltar a morar na Europa ou pelo menos fazer algum curso por lá”.
Quem não pode, como Fátima e Cecília, contar com a herança genética para conseguir se tornar cidadão de determinado país deve apostar no domínio do idioma. Com fluência, é possível trabalhar com um visto provisório, que pode ser renovado até o interessado obter a cidadania. As chances aumentam se o candidato for profissional de uma área carente de mão de obra no país.
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