sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O despertar dos indivíduos comuns, sem partido, sem pedigree e sem coleira ideológica


Fernando Gabeira escreveu ontem um texto no Estadão Online que só li agora, com atraso. Faço questão de registrá-lo. É simples, despretensioso, mas expressa uma visão das manifestações contra a corrupção que também é a minha. Podemos estar diante de uma coisa rara na história do Brasil: o despertar dos indivíduos comuns, sem partido, sem pedigree e sem coleira ideológica. Leiam o texto de Gabeira.

De novo, as vozes

Alguma coisa começou no 7 de Setembro. E a manifestação na Cinelândia, com cerca de 3 mil pessoas, é a primeiro fruto do movimento que iniciado na data nacional.

Cheguei cedo para ver a multidão se formando e percorri a Cinelândia para constatar algumas coisas novas para mim. A idéia de que era um movimento com predominância de jovens foi um pouco abalada, pois havia um equilíbrio maior, com muita gente idosa participando.

A outra hipótese era de que o movimento, convocado pela internet, seria de uma classe média mais alta. Também havia equilíbrio entre diferentes camadas.

A suposição de que se trata de manifestação de direita desaba na leitura de alguns cartazes, protestando contra a privatização.

Havia um cartaz pedindo a pena de morte para os corruptos. Na verdade, esta é também uma característica das manifestações espontâneas. Cada um leva seu slogan.

Não era uma manifestação típica dos setores da classe média, tal como as que vi desde os anos 80. Parecia mais com o princípio do movimento pelas diretas. Pelo menos, essa também é a impressão de alguns que participaram do movimento pelas eleições diretas para presidente.

Uma diferença: no palanque nenhum político. Havia as palavras de ordem clássicas, contra a corrupção, o nepotismo e o voto secreto. Mas os oradores se sucediam indignados e o ponto de convergência era afirmar que o dinheiro da corrupção vem do esforço de todos e que o Brasil não pertence a uma casta, como certos políticos acreditam.

Em alguns dos oradores, havia uma rejeição pelos políticos de um modo geral, não só dos corruptos. Os bons, diziam, não estão resistindo como deveriam.

As vassouras verdes, semelhantes às 584, fincadas na praia de Copacabana, apareceram entre algumas pessoas fantasiadas. Um grupo da velha guarda usava uma camisa amarela com uma inscrição: tenho vergonha das autoridades constituídas do nosso país.

Escrevo algumas horas depois. A suposição mais forte para mim é de que, como em outros lugares do mundo, caso seja mantido um dia e um lugar de protesto, a tendência é de crescimento.

Nem todos os dias serão idênticos. Não é necessário fazer previsões numéricas. Basta insistir, pois os manifestantes, embora espontâneos e apartidários, sabiam claramente o que querem.

Mantida a chama, ela pode ser uma novidade importante no ano eleitoral. Não necessariamente competindo ou apoiando candidatos. Mas aproveitando o momento para que a resistência ganhe volume e impulsione uma necessária reforma política.
Por Reinaldo Azevedo

Nenhum comentário:

Postar um comentário